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Foto do escritorJoao Fotografo Casamento

Refletindo Sobre a Importância do Operacional



Desde o mês passado, tenho tido a honra e o desafio de instruir um grande grupo de Guardas Municipais da minha gloriosa instituição. Para mim, ela continuará sempre sendo gloriosa, mesmo que alguns não a vejam assim. Mas seguimos em frente, com o coração firme e a determinação de fazer a diferença.


Durante essa jornada, tenho observado algo que me preocupa profundamente: meus amigos e irmãos de farda, de sangue azul-marinho, estão cansados, desmotivados e, em muitos casos, tristes. O peso das batalhas diárias tem deixado marcas, e é evidente que esses guerreiros se encontram em um ponto crítico. Mesmo assim, a cada aula, a cada palavra proferida, luto para elevar o espírito de cada um deles, para que entendam a verdadeira importância de cuidar de si mesmos e, assim, refletirem esse cuidado na qualidade do serviço que prestam à sociedade.


Eu inicio minhas falas sempre com o mesmo propósito: mostrar que nada é mais importante do que cada um que está ali. A dúvida, entretanto, parece pairar sobre suas cabeças, desafiando-me a cada instante. Mas com argumentos sinceros e explicações que buscam tocar o coração e a razão, consigo, pouco a pouco, dissipar essas incertezas. Faço-os compreender que sua participação na Guarda Municipal é mais relevante do que qualquer outro aspecto da instituição em si. Afinal, sem eles, nós não existiríamos.


Sei que pode soar provocador, mas é preciso dizer: mais importante do que secretários, comandantes ou chefes do executivo e legislativo, é o operacional. É aquele que enfrenta o dia a dia, o combate injusto, sem as ferramentas adequadas, sem equipamentos, sem direitos garantidos, e, muitas vezes, sem o devido respeito de quem se julga superior.


Durante as aulas, busco manter um diálogo aberto e constante, trazendo o debate sobre nossa relevância e reforçando a necessidade de colocar o operacional no lugar de destaque que merece. Porque, para garantir uma sociedade segura, precisamos proteger aqueles que, com coragem e sacrifício, saem de suas casas prontos para defender essa mesma sociedade. Esses homens e mulheres enfrentam os desafios mais duros, cuidam do que não lhes pertence, resolvem problemas que não criaram e arriscam suas próprias vidas por pessoas que, muitas vezes, nem os reconhecem.


É uma missão complexa motivar e gerar mudanças nesses operacionais, mas tenho me empenhado em dividir suas dores. Afinal, eu também sou um Guarda Municipal. Entendo as dificuldades, o desrespeito e o desgaste moral e logístico que enfrentamos há anos. Este não é um problema recente; é um legado de descaso que carregamos há muito tempo.


Meu grande trunfo é, em todas as conversas, fazer com que entendam que eles são, e sempre serão, a mais importante ferramenta da segurança pública municipal. Tenho conseguido despertar em alguns o valor que eles precisam reconhecer em si mesmos. Valorizar-se é entender o seu lugar e aquilo que realmente merecem. Enquanto eles se mantiverem de pé, mesmo sob tanto peso, serão o pilar que sustenta a proteção de toda uma sociedade. E é por isso que, a cada dia, com todo o respeito e dedicação, continuo minha missão de lembrá-los disso.


Às vezes, as palavras precisam ser duras, as verdades cruas precisam ser ditas para que todos compreendam a realidade que enfrentamos. Tenho que lembrá-los, ainda que com pesar, que se algum de nós "tombar" — na nossa linguagem, se perdermos a vida em serviço — no dia seguinte, outro assumirá o lugar na escala, porque o sistema não pode parar. Essa é a dureza de nossa realidade: por mais que um de nós sofra ou se vá, a engrenagem continua girando.


É por isso que a minha mensagem central para todos é clara: “Cuidem-se sempre”. Usem todos os meios disponíveis para se manterem vivos e capazes de responder a qualquer ameaça que se apresentar. Nossa família merece que voltemos para casa ao final de cada jornada. Não merecemos perder o direito de nos defender e devemos nos cuidar ao máximo para que essa defesa seja possível. Nada é mais importante do que voltar para casa, porque, no fim, nossa família é o que temos de mais valioso. Nada substituirá a nossa ausência. Para alguns, a nossa falta será apenas um nome a menos na escala, uma estatística esquecida, um voto a menos para aqueles que nos ignoram.


Mas para aqueles que nos amam, nossa ausência será insuportável e irreparável. Portanto, proteger-se é mais do que uma necessidade, é uma missão. E seguir em frente, cuidando de nós mesmos e uns dos outros, é a nossa verdadeira luta. Essa é a nossa responsabilidade: proteger nossa própria vida para que possamos continuar a proteger a dos outros.


No final do dia, quando o cansaço pesa e as incertezas vêm, que cada um lembre que o verdadeiro valor está em saber que a nossa vida importa. Importa para nossos irmãos de farda, importa para nossas famílias e importa para nós mesmos. Que voltemos para casa, sempre. Porque só assim, juntos e vivos, continuaremos sendo a esperança e a força que mantêm nossa sociedade em pé.



JOÃO HENRIQUE RIBEIRO

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3 Comments

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Guest
Dec 02

Irmão, infelizmente essa é a realidade das GCMS no estado do RJ. Falta investimento, valorização da GCM e inteligência por parte do poder público.

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Guest
Dec 02
Rated 5 out of 5 stars.

Ótima análise.

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Fabio Jesus
Nov 18
Rated 5 out of 5 stars.

👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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