A publicação do 18º Anuário de Segurança Pública trouxe à tona dados que, à primeira vista, poderiam sugerir um avanço na segurança do país. De fato, a taxa de mortalidade geral diminuiu, mas a realidade por trás desses números é muito mais complexa e, por vezes, alarmante. Enquanto a taxa de letalidade policial aumentou, também se observou um crescimento na letalidade do crime organizado. Esses números revelam uma faceta sombria da segurança pública no Brasil.
O mais perturbador é o uso de termos no texto de apresentação do anuário. Nele, as mortes ocorridas em confronto policial são denominadas como "assassinatos". Isso levanta uma questão fundamental: se os policiais, em sua função de proteção e enfrentamento ao crime, são rotulados como assassinos, como devemos então classificar as ações do crime organizado? Essa escolha de palavras é no mínimo estranha e tendenciosa, pois ignora o contexto de autodefesa e combate ao crime que caracteriza a atuação policial. Em uma sociedade onde a violência é uma constante, é injusto e desrespeitoso equiparar a ação de um policial em serviço a um homicídio.
A ONU aponta que o Brasil é responsável por 10% do total mundial de mortes violentas, apesar de ter apenas 3% da população global. A média global de mortes violentas é de 5,8 para cada 100 mil habitantes. Esses números, por si só, já são alarmantes. No entanto, o aumento do número de suicídios entre policiais é um reflexo ainda mais preocupante. Esse dado evidencia uma tropa exausta, desvalorizada e sobrecarregada, enfrentando baixos salários e a pressão de superiores que abusam de sua autoridade hierárquica.
Nas cidades onde a polícia se defendeu mais frequentemente em confrontos com criminosos, houve uma diminuição nos índices de violência. Isso contraria a narrativa inicial e demonstra que uma ação policial preventiva e ostensiva, apoiada juridicamente e institucionalmente, pode sim produzir resultados positivos. No entanto, esses dados são frequentemente ignorados ou subestimados por aqueles que constroem esses anuários.
O que mais me assusta é que esses anuários são elaborados por pessoas que não vivem a realidade da linha de frente. São acadêmicos e estudiosos que, embora doutores na matéria, não conhecem a verdadeira face da segurança pública. Não sabem o que é passar a madrugada com o risco de um tiro atravessar o para-brisa, não enfrentam traficantes em seus territórios, e não ouvem os lamentos de policiais exaustos e desvalorizados.
Enquanto a segurança pública for avaliada e dirigida por aqueles que estão distantes da realidade do campo, continuaremos a ver essa desconexão entre números e narrativas. Esses estudos acadêmicos, por mais bem-intencionados que sejam, falham em capturar a essência do trabalho policial e as complexidades enfrentadas diariamente por esses profissionais.
Eis o cerne da controvérsia: como podemos confiar em um sistema que é avaliado por aqueles que não o compreendem verdadeiramente? Enquanto os "estudiosos" continuarem a ditar as regras e a moldar a opinião pública, estaremos fadados a uma segurança pública disfuncional, onde os verdadeiros heróis são vilipendiados e os criminosos encontram espaço para prosperar. A pergunta que fica é: até quando permitiremos que essa desconexão perpetue a insegurança e a injustiça?
JOÃO HENRIQUE
Comments